quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Nem tudo nos EUA se resume a coca-cola e fast food

Por Ana Brito
Especial para o Cacimba de Letras
Imagens: Ana Brito

Estados Unidos, como o Brasil, é uma nação multicultural, com uma grande variedade de grupos étnicos, tradições e valores, cuja cultura em comum pela maioria dos estadunidenses é a ocidental, em grande parte derivada das tradições de imigrantes europeus. No entanto, a imigração mais recente da Ásia e da America Latina, adicionou uma mistura cultural que tem sido descrita tanto como homogeneizada quanto heterogênea, já que os imigrantes e seus descendentes mantêm especificidades culturais. E este caldo de cultura, adicionado às tradições da alimentação dos índios americanos, que se baseava em três ingredientes principais – milho, feijão e abóbora –, e as muitas das mais duradouras influências que foram trazidas pelos escravos africanos - tão populares como os churrascos e grelhados, e os molhos condimentados – se refletem na culinária deste imenso país, marcada pelo regionalismo e pela diversidade.

As flores de Alice Waters
Prometi escrever um especial para o cacimbadeletras sobre a cozinha californiana. Missão impossível! Não imaginei a complexidade nem a dimensão do que estava me propondo. Ao contrário do que se propaga fora daqui, e do que experimentam os adolescentes brasileiros na sonhada viagem dos 15 anos à tal da Disney, nem só de fast food se alimentam os americanos. Honestamente, sequer poderei escrever sobre a cozinha da bay area, região da Califórnia onde está inserida a cidade de Berkeley, onde estamos residindo e trabalhando. Depois de matutar um pouco, e sem querer frustrar a legião de leitores deste conceituado blog, resolvi escrever por etapas sobre nossas aventuras gastronômicas por aqui. Vou tentar cumprir o prometido, mas sem levar muito a sério, senão terei que cobrar cachê por isso.

Ravióli
E para abrir este especial, nada mais especial do que falar de dois importantes acontecimentos: o dia em que conheci a lenda viva da cozinha californiana e a minha “janta” de aniversário. Meu sonho era conhecer o Chez Panisse, verdadeiro templo da cozinha californiana, que para nossa surpresa, está localizado na rota diária obrigatória de nosso ônibus (a Shattuck Ave). Mesmo fazendo uma reserva com mais de 15 dias de antecedência, só conseguimos uma mesa na área do bar, para o horário de abertura da tarde, véspera do 11 de setembro, dia tão temido dez anos depois do ataque às Torres Gêmeas. Chegamos, eu e meu filho Bruno, pontualmente as 5:15 pm, naquele sábado frio e cinzento em Berkeley. No hall, uma senhora elegantérrima, dava um toque final na arrumação de um vaso de flores que ornamentava a entrada do restaurante. Sem nos darmos conta, abordamos a lendária chef Alice Waters sobre nossa reserva e ela gentilmente nos indicou o maitre que nos esperava no primeiro degrau da escada, que dá acesso ao terraço onde fica o bar. Antes de chegar à nossa mesa, ainda tentei descer os degraus para tirar uma foto com aquela senhora, pois naqueles poucos segundos lembrei-me da imagem de fotos da legendária chef. Era tarde. Era ela, de carne, osso e bem vestida. Mas a minha vergonha e a censura de meu filho não me deixaram fazer aquele registro. Nunca imaginei que uma tão importante chef ainda supervisiona todos os trabalhos do restaurante. Mesmo sem o registro fotográfico, aquele encontro foi fantástico, e pelo menos a foto das flores tiramos na saída.

A cozinha
O Chez Panisse é reconhecido como o espaço inaugural da chamada moderna cozinha californiana, sendo Alice Waters aclamada como a líder deste movimento, cuja característica principal é a sustentabilidade, com base na valorização do uso de produtos frescos, sazonais, provenientes de fazendas locais, o que envolve a preocupação com o plantio, a origem e o manejo dos insumos. Certos ingredientes que só são bons quando frescos, como o queijo de cabra e caranguejos Dungeness, estão entre as delícias oferecidas pelo restaurante. O cardápio não é fixo, e mesmo no bar, os pratos são apresentados de uma forma artística, combinando com o design estético do restaurante. A cozinha é aberta e tudo é preparado na frente dos clientes.

O "bolo"
Embora seja considerado caro para os padrões estadunidenses de classe média, o cardápio a preço fixo do restaurante varia de U$ 50 a U$ 85.00, dependendo do dia da semana, e no Café, cujo serviço é a la carte, as entradas e pratos principais variam de U$ 8.00 a U$ 23.00. As sobremesas ficam na faixa de U$8.00.

Para a nossa “janta”, optei por um ravióli que esqueci o nome agora e não encontrei o cardápio e uma taça de um vinho californiano. Por ambos paguei menos de U$ 30.00, já que Bruno não estava com fome e só beliscou o couvert - que é servido sem custo para o cliente - e a sobremesa, que foi uma oferta da casa em celebração ao meu aniversário (denunciado por Bruno à garçonete que nos atendeu), com direito a um mimo especial.

Serviço
1517 Shattuck Ave, Berkeley, CA, EUA
510-548-5525
Restaurante: apenas Jantar servido em dois turnos: 6 pm e 8:30 pm
Reservas obrigatórias com pelo menos 30 dias de antecedência
Café: apenas jantar, reservas obrigatórias, horário a partir das 5;15 pm
Fechado aos domingos

2 comentários:

Anônimo disse...

Tia, pode cobrar cachê! rs
Adorei todos os seus minuciosos e ricos comentários, as fotos, a bela oportunidade de realizar um sonho num dia tão especial pra vc, enfim, tudo perfeito para uma celebração à sua altura, e ainda na companhia impagável de Brunão.
Vc merece todo refinamento do mundo, tia, pois conhece, valoriza e é uma entusiasta admiradora das coisas boas e importantes da vida.
Te amooooo muito, parabéns pelo seu dia (veja seu e-mail depois) e por ser essa mulher sempre tão admirável.

Da sua sobrinha, Vivi.

Anônimo disse...

Ahhh, acrescentando uma coisa aos leitores e admiradores do cacimba: agora vcs sabem a quem Elizinha puxou esse entusiasmo todo em falar, de forma tão clara e gostosa, de um dos maiores prazeres da vida, não é? ;-)

Adoro vcs!!!

Vivi