segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Pescando sonhos

Por Lucas Lima

Maria de Jesus, assim ela se chama. Poderia ser apenas mais uma daquelas nascidas em Barreiros, no Litoral Sul pernambucano. Apenas mais uma filha de pescador, que iniciou sua vida de trabalho fazendo faxina. Apenas mais uma senhora destinada a trabalhar para pagar as contas da família. Mas ela não quis assim. Com 38 anos, em 1995, decidiu tentar a vida na Europa, mais especificamente em Portugal, sozinha. Após ruas e ruas varridas, e muito esforço, conseguiu concretizar o que, hoje, é o retrato de sua dedicação: o restaurante O Pescador, fundado há três anos em Tamandaré.

A agora empresária é uma mulher simples. Baixa, com voz doce e calma, e com cara de gente do povo. Disse que, antes de ir para Portugal, trabalhou em uma pousada. Começou como faxineira e, ao ser percebido seu senso aguçado de organização, passou a gerenciar administrativamente o local. Foi o momento de juntar o dinheiro para pagar a passagem para a Europa. Viajou com pouca verba para o novo rumo, onde logo conseguiu emprego para limpar as ruas de Lisboa. Fazia tudo bem feito, e rápido, para poder trabalhar mais e conseguir ganhar mais, podendo, assim, ajudar a família.

Por lá, conheceu seu marido, um funcionário do Ministério da Agricultura local. Com a nacionalidade portuguesa, e com a vida estável do marido, poderia ter parado por ali e se dedicar apenas à nova vida. Mas preferiu continuar e, há três anos, ergueu O Pescador – com uma verba que, dificilmente, seria conseguida por uma faxineira brasileira .

O restaurante é todo decorado com elementos que remetem ao ato de pescar, como uma jangada no meio do salão. Uma bandeira de Portugal enfeita o ambiente, não esquecendo da bandeira pernambucana. Maria de Jesus conta ainda que decidiu manter toda a área verde do espaço, que não tem paredes, dando a sensação de sossego e liberdade.

Agora falando de comida mesmo: o cardápio é formado basicamente de pescado. Pratos já conhecidos do grande público, que até podem ser encontrados em qualquer restaurante. Contudo, refeições que trazem um tempero diferenciado, que, definitivamente, não saem tão facilmente do paladar dos que por lá passam. Por temporada – período que começa em outubro e se estende durante todo o verão -, O Pescador vende mais de uma tonelada de pescado. Apesar disso, Maria acredita que uma melhor organização turística da praia poderia elevar bastante esse número.

VIDA

Durante a entrevista, Maria falou a seguinte frase: “Eu era uma obra de arte e decidi me colocar na moldura”. E lá estava ela na moldura, sem o glamour que tantos buscam, mas brilhando por ter concretizado um trabalho primoroso.

Com o fim do verão, é chegado o momento do trabalho mais leve – e de voltar a viver com o marido em Portugal. Maria afirma que pensa em lapidar melhor O Pescador e, em alguns anos, entregar para a família administrar, voltando definitivamente para sua outra vida. Contudo, a expressão dela não diz exatamente isso. Fala sim que aquela cabeça pensante ainda tem muito a fazer no restaurante – e quem sabe até pelo mundo.
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Serviço
Rua Raul de Pompéia – Tamandaré
Fone: (81) 3676-1345

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