sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Receitas com prosa-poética

Por Lucas Lima
Imagem: Divulgação

Quando li Papel-manteiga para embrulhar segredos, em 2008, fiquei apaixonado pela escrita de Cristiane Lisbôa. No livro, ela mesclava romance com pitadas de receitas, que permeavam o trajeto obstinado da jovem Antônia, aprendiz em um restaurante que beirava ao serviço militar. Na publicação, a jovem escreve cartas para a avó contando os percalços da caminhada, que só ganha um colorido a partir dos temperos e das sensações criadas por eles. 

Neste ano, Cristiane lançou um novo livro, chamado Duas pessoas são muitas coisas. É, na verdade, o início da história. Não faz mal ler uma ou outra. Mas degustar as palavras na ordem de publicação cria o clima ideal para entender as histórias de ambos. 
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No novo livro, a personagem principal vive em uma cidade pacata, com “duas ruas, nenhum poste e quintais lambidos pelo mar”. A história se passa quando ela está na beira dos 17 anos - idade que todas as pessoas voltam a ter quando se apaixonam, segundo a cantora argentina Mercedes Sosa. Malas prontas para um novo destino, cancela a partida pouco antes do ato, como quem soubesse que as estrelas e o mar trariam outros dois pés para ajudar em outra caminhada.

João, o astrônomo, chega para alugar o quarto que ficaria desocupado com a viagem da personagem principal. Acaba dividindo com ela o espaço, os abraços e alguns sonhos que vão sendo construídos entre as areias da praia e as chuvas seguidas dos arco-íris. Não dá para contar muito mais, só que o desfecho da segunda história explica muito do que foi transformada em parágrafos no Papel-manteiga.

Em Duas pessoas são muitas coisas, também há diversas receitas, algumas como pílulas. São preparos simples para drinks, sobremesas, dicas para o desjejum, todos sem nome. No final, contudo, há um caderno com dicas para preparar o Mar sem cais, o Amor em segunda mão e o Bilhete para alguém que está bem perto. Nomeclaturas para inspirar quem, depois do deleite da leitura, também irá dar vida, entre panelas, a peixes, chocolates e alguns grãos e cogumelos tão deliciosos quanto a leitura desses dois livros.

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